Ao ler os artigos para este texto de light painting me deparei com dois referenciais distintos, um que percebe a fotografia por uma conciência filosófica e outro que "vê" pelos sentidos. Ao lêr o livro "Sobre Fotografia" de Susan Sontag que diz " a realidade sempre foi interpretada através dos registro fornecido pelas imagens"..."as imagens possuem poderes estraordinários para determinar nossas exigências com respeito à realidade e são elas mesmas substitutas cobiçadas da experiência autêntica indispensável a boa saúde da economia, da estabilidade política e a busca da felicidade individual". Percebemos que nesta nossa sociedade de consumo tudo existe para terminar numa foto. Contrapondo esta visão filosófica da fotografia há a percepção intuitiva de Evgen Bavcar que diz “O mundo não é separado entre os cegos e os não cegos. A fotografia não é exclusividade de quem pode enxergar. Nós também construímos imagens interiores”. Bavcar conheceu a fotografia através de sua irmã, que lhe emprestou uma câmera fotográfica para que ele fotografasse uma menina do colégio por quem era apaixonado. Desde então, ele afirma ter descoberto uma forma de exteriorizar suas imagens interiores e comunicar-se com os outros. Doutor em História, Filosofia e Estética pela Universidade de Sorbonne, na França, Bavcar vive em Paris e viaja o mundo, mostrando às pessoas que a imagem não precisa ser explicitamente visual. Bavcar esteve no Brasil no final do ano passado participando do congresso Arte Sem Barreiras, em Belo Horizonte. Durante a visita ao Brasil, também ministrou um workshop para um grupo do Instituo Londrinense de Cegos. Durante o workshop, mostrou que os cegos enxergam com o toque e desenvolvendo outros sentidos é possível perceber o mundo com a mesma eficiência que aquelas pessoas que empregam apenas o sentido visual. Também ensinou conceitos como sombras e horizontes para cegos de nascença. Bavcar diz ““O teu horizonte é ate onde você pode ver. Se você vê com as mãos, logo o teu horizonte é até onde você pode tocar”. Entre algumas características do seu trabalho, destaca-se a composição da luz em contraste com ambientes totalmente escuros. Freqüentemente também usa a técnica de multi-exposições e procura sempre interferir em seus trabalhos.Evgen Bavcar nunca viu um de seus trabalhos, conhece-os através de descrições. Seu mundo criativo de sombras, luz e sobreposições inusitadas desafia em polêmica o conceito de fotografia que não é exclusividade de quem pode enxergar. Todos construímos imagens interiores. Bavcar prefere imagens em preto e branco, com alto contraste, com composição da luz em lugares totalmente escuros, com uso de feiches, de sinos e do toque, prefere fotografar a noite porque pode controlar melhor a luz. De uma sensibilidade ímpar, Bavcar nos remete a um mundo de contrastes e do surrealismo. Antes de clicar, Bavcar tenta captar ao máximo a imagem que está sendo construída. Ele consegue através das mãos, marcar a distancia entre o objeto e a câmara. Pra fazer retratos, eleva a câmara na altura dos rostos, guiados pelas vozes das pessoas. Como não pode ver, ele apela para outros sentidos. “Eu fotografo contra o vento”, diz ele. Ao fazer apelo a outros sentidos, ele desloca a posição central que a nossa cultura, tradicionalmente, institui como posição central na percepção que é a ótica. Para ele, as imagens existem também através do olhar dos outros, que lhe falam, que lhe trazem, que lhe permitem ver, logo, a palavra é uma parte da imagem. Tem a parte da palavra da imagem que é a parte da noite, do conto, da rapsódia grega que conta as coisas, e há a parte da imagem, que é a luz.Bavcar está verdadeiramente face a face com as imagens da sua infância por pertencerem a uma memória muito pessoal. É uma memória da transcendência e imanência do seu corpo. Se outra pessoa lhe descreve uma foto, esta foto está em transcendência através do olhar do outro. Se ele fotografa uma pessoa, ele não verá nenhuma vez essa foto diretamente, e isso significa que essa foto é de uma transcendência inacessível, porque não é profanada com o seu olhar. Pode vir a ser profanada com o olhar dos outros, mas não com o olhar dele. Sempre no invisível, sem o olhar físico.
Ao conhecer estas duas visões da fotografia, me percebi tendo um pouco de ambas, a antiga aonde tudo termina em uma fotografia e a intuição de Bavcar ao fotografar no escuro fazendo o trabalho de light painting, percebi o quanto é difícil criar uma imagem na ausência de luz, e o quanto estamos dependentes dela. Esta técnica é relativamente simples e pode oferecer resultados interessantes para quem está procurando um algo mais em suas fotos ou gosta de experimentalismos. Claro que a técnica se torna muito divertida quando executada em grupo e pode render um bom período de entretenimento. Na realidade, o único limite para a técnica é a imaginação de quem a está realizando.
Light Painting significa "Pintar com a Luz". Em um ambiente totalmente escuro ou com pouca iluminação, perto da escuridão, e usando uma câmera que possua o modo de longa exposição fixa em um tripé, o fotógrafo usa diferentes fontes de luz como se fossem pincéis. Podem-se usar lâmpadas ou lanternas comuns para "pintar" a cena, mas no nosso caso como estávamos quase sempre com apenas um farolete, tivemos que abusar da criatividade para construir imagens interessantes. O tripé é muito importante, quanto mais firme for o tripé melhor, para que não haja a possibilidade das fotos saírem tremidas. Quanto maior o tempo de exposição, maior e a possibilidade de agir na cena para que esta fique mais elaborada. No caso de pessoas fica um pouco mais complicado, pois é necessário que a mesma não se movimente até que você faça a sua "arte" sobre ela. Somente os locais iluminados pelas fontes de luz são registrados no sensor, embora o pintor esteja na cena ele não fica registrado por não incidir uma luz sobre ele que reflita no sensor da máquina fotográfica. Apenas o rastro de luz e os focos iluminados ficam registrados, o importante é a criatividade e imaginação de quem a faz pois o desenho não existe se não existir a foto, com poucas referências é meio confuso porque você pode se perder no meio do traçado, pois não se vê nada, apenas tem que elaborar o desenho na cabeça de alguma forma.
Como Bavcar me senti um cego que percebe o espaço e tem que desenhar de cabeça no escuro a fim de produzir uma foto que traga uma linguagem, uma idéia, uma imagem que seja significativa e próxima a idéia original. Não basta ter a idéia, é preciso construí-la no espaço tridimensional, citando Geraldo de Barros “a imagem é de quem a realiza e não de quem expõe o negativo”. Este projeto conjunto de Light painting só foi possível ser feito com a ajuda dos meus amigos do segundo ano de Artes Visuais da UEL que participaram ativamente no processo de criação seja acendendo e apagando a luz, apertando o “click” para expor o sensor da máquina digital o tempo necessário para a “pintura” seja 30, 60 ou mais segundos, seja posando de modelo “top model” ou contribuindo com idéias, acessórios, lanternas etc. O meu papel de “pintor com luz” construindo idéias no nada, para ser revelado como uma fotografia fica registrado não pela minha imagem, mas pelos rastros de luz marcado como linhas no espaço que revelam a minha intenção, uma idéia e o fruto de um trabalho conjunto para a produção de uma obra.
O light painting permite duplicar a pessoa e desenhar com rastro de luz.
Este prazer de fotografar do light painting já me faz satisfeito, mas retocar as imagens digitalmente a fim de melhor revelar a imagem atribuindo em alguns casos cores que não foram marcadas no inicio do processo, é um recurso que melhora ainda mais a qualidade da imagem produzida digitalmente. Depois que as fotografias são ampliadas os efeitos que os rastros de luz produzem é uma imagem com grande impacto visual que nos intriga e causa estranheza, mas revela algo de novo e inusitado que estimula a nossa imaginação e nos faz refletir sobre a própria realidade e o mundo das idéias.
Ensaios do port fólio de fotografia de Angelo Cesar Meneghetti
Universidade Estadual de Londrina
2o. ano de Artes Visuais
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